terça-feira, 11 de outubro de 2011

Giz - Renato Russo

Esses dias eu peguei o "A Tempestade ou o Livro dos Dias", da Legião, e coloquei para tocar. Foi ai que me lembrei o por que de ele estar meio escondido há alguns anos: é doloroso pacas! Ouvir o Renato cantar aquelas músicas, na situação em que estava, é como se cortasse de dentro pra fora. Versos como: "meu coração não quer deixar, meu corpo descansar, e teu desejo inverso é velho amigo" (O Livro dos Dias); ou "hoje a tristeza não é passageira, hoje fiquei com febre a tarde inteira e quando chegar a noite, cada estrela parecerá uma lágrima" (A Via Láctea); "beba desse sangue imundo, e você conseguirá dinheiro" (Natália) é de se partir o coração.


Mas, aquele que para mim é o maior poeta da música brasileira, dentro do estilo de vida que adotei, sempre foi assim, verdadeiro. E não importa sobre o que falava, sempre tinha o jeito dele. Que outra pessoa conseguiria fazer uma receita como em "Anjos"? "Coloque tudo numa forma untada previamente com promessas não cumpridas...adicione a seguir o ódio e a inveja e três colheres cheias de burrice"... e ainda fazer disso algo cantarolável e dançável.

Ah Renato Russo, que falta você faz... e que pessoa de sorte eu sou por conseguir dizer olhando nos teus olhos tudo que a Legião representava (e representa) para mim, naquele início de noite de 21 de agosto de 1992, quando a turnê de "V" passou por Uberlândia. Como meu pai não me deixava ir a shows de rock o jeito era tentar encontrar a Legião na porta do hotel Universo. E deu certo...

Primeiro o Marcelo Bonfá, creio que quando ele chegou já era da passagem de som no Uberlândia Tênis Clube (UTC), anotei o horário no verso da folha dos autógrafos...Depois o Bonfá, parecia um boneco de tão belo. E a noite caiu e nada de Renato Russo aparecer.

O fluxo de pessoas diminuiu...e por volta das 19h lá veio ele...caminhando calmamente pelo saguão...segurando um maço de Hollywood, um isqueiro, vestindo calça estilo UsTop azul escura e camisa no mesmo tom...sapatos pretos...ah, e o óculos.


Algumas pessoas, que não passavam de uns seis ou sete, estavam com o disco, duplo, para ele autografar. Eu levei meu caderno no qual escrevia as letras da Legião. E o que dizer? Nada, falei meu nome quando ele perguntou...e naquela época eu achava que me chamava Adriana...então, ganhei um coraçãozinho sobre o "i".

O pessoal que ia para o show se mandou e eu já ia para casa. Parei antes de chegar na Tubal Vilela. "O Reanto Russo ali e eu vou embora sem falar nada com ele? Já vou levar bronca em casa mesmo, que seja". Voltei pra porta do Universo. E lá fiquei esperando ele voltar do restaurante que era bem em frente, só atravessar de uma calçada pra outra a Duque de Caxias.

E quando ele voltou não sei como tive voz para chamá-lo. Tipo, quem sou eu pra chamar Renato Russo? E ele atendeu. E por uns cinco ou dez minutos, não tenho noção exata do tempo que passou, nós conversamos...sobre a Legião, sobre "Vento no Litoral" e como aquelas músicas me ajudavam e às vezes traduziam o que eu não conseguia explicar. Já contei essa história outras vezes e vou continuar a contar...é algo bom de lembrar.


Eu era estagiária na CTBC, ali no "prédio da 236" em 11 de outubro de 1996. A manhã estava meio cinza quando vi uma chamada do "Jornal Hoje" falando da morte de Renato Russo. "Como assim?". Ele manteve-se discreto em seus últimos dias. Não fez alarde, descansou. E uma as primeiras pessoas que encontrei após a notícia foi a Adriana Faria, jornalista responsável pela comunição lá. Esses dias, no London, nos reencontramos no show do Renato Quase Russo e nos lembramos daquela tarde.

Chorei muito...fui pra casa, entrei no quarto, apaguei a luz. Um amigo ligou, deixou recado com a minha mãe e dizia saber "da minha tristeza". Uma tristeza que não era, e não é, só minha e que vez ou outra, vai voltar. E isso só entende quem tem essa conexão com a música que transforma e que é eterna.

Força sempre!

E Renato Russo disse a composição de que mais se orgulhava era "Giz" (O Descobrimento do Brasil, 1993)... uma canção simples e com várias interpretações e significados, assim como a vida da gente.



E mesmo sem te ver
acho até que estou indo bem
só apareço, por assim dizer
quando convém aparecer
ou quando quero
quando quero

Desenho toda a calçada
acaba o giz tem tijolo de construção
eu rabisco o sol que a chuva apagou
quero que saibas que me lembro
queria até que pudesses me ver
és parte ainda do que me faz forte
e pra, ser honesto, só um pouquinho infeliz

Mas tudo bem, tudo bem, tudo bem
mas tudo bem, tudo bem, tudo bem
lá vem, lá vem, lá vem de novo
acho que estou gostando de alguém
e é de ti, que não esquecerei...

Quando quero...
quando quero...
quando quero...
eu rabisco o sol que a chuva apagou
acho que estou gostando de alguém...


Fotos: Divulgação. A do Renato sozinho é da Folha

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

GLYCERINE - UMA PAUSA

Para variar estou em uma correria louca. Trabalho, trabalho e mais trabalho. E isso não é uma reclamação. Eu gosto do que faço e agradeço todos os dias por ter a chance de estar envolvida em coisas que são importantes para manter a minha conexão com música, com o rock. Quando sai da faculdade prometi a mim mesma que trabalharia com jornalismo e com isso, de alguma forma, faria o que pudesse por este estilo de vida, que tanto faz por mim.

Seja na hora em que estou desesperada por conta de um deadline que não pode ser cumprido, quando fico p* da vida por ter dado uma informação incorreta ou digitado algo errado que foi para o papel, quando fico feliz após entrevistar uma figura que tem tudo a ver com o que acredito...em qualquer um desses momentos tem uma trilha sonora. Frases que eu queria dizer...mas é melhor cantar.

Às vezes é preciso uma pausa...e tirei ela agora. Ao som de "Glycerine", do Bush. Não é saudosismo, ou será que é? Tem tanta coisa legal gravada nos anos 90 e não trocaria minha adolescência neste período por nada. Um arranjo bacana, aqueles riffs da guitarra embalando aqueles versos dúbios na voz rouca do Gavin, tão próprios de quem quer ter o direito de mudar de humor a cada estação...ou de hora em hora.

O Fernando Boente me disse aqui na redação há pouco quando comentei que estava com vontade de colocar o som bem alto e sair dançando e cantando..."você está apaixonada". Estou sim, sempre. E isso machuca...mas quer saber? É infinitamente melhor do que não sentir nada.


Não sei até quando isso vai. Só deixo ir...e "Glycerine" tem várias frases que têm muito a ver comigo nos momentos em que tento entender por que tanta coisa demora para ir embora...para ser esquecida ou por que jamais o são... Ai uma versão ao vivo em Woodstock, em 1999.


BUSH – GLYCERINE – DO ÁLBUM SIXTEEN STONE (Interscope, 1994)
Must be your skin that I'm sinkin in
must be for real cause now I can feel
and I didn't mind it's not my kind
not my time to wonder why


Everything's gone white
 and everything's grey
now your here, now you away
I don't want this remember that
I'll never forget where your at


Don't let the days go by
 glycerine , glycerine


I'm never alone
I'm alone all the time
are you at one or do you lie
we live in a wheel where
everyone steals

but when we rise
it's like strawberry fields



If I treated you bad
you bruise my face
couldn't love you more
you got a beautiful taste


Don't let the days go by
could have been easier on you
I coudn't change though
I wanted to
could have been easier
by three
our old friend
fear and you and me



Glycerine, glycerine]
don't let the days go by
g
lycerine
don't let the days go by


Glycerine, glycerine...
Glycerine, glycerine...


Black moon white again...
black moon white again...
and she falls around me


when we wanted us less I
could not kiss just regress
 it might just be clear
 simple and plain
that's just fine that's
just one of my names


Don't let the days go by
 could've been easier on you ...you...you...
glycerine, glycerine, glycerine, glycerine...
I needed you more